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Vegetarianismo: Uma Jornada de Saúde e Consciência

Minha trajetória para uma vida mais leve

Essa história de transição para o vegetarianismo não tem grandes reviravoltas, mas é especial pra mim. É sobre como um desejo de criança me ajudou a ser uma adulta mais feliz e saudável. Talvez, por sua simplicidade, ela possa inspirar outras pessoas também.

Muitas vezes me perguntam por que decidi virar vegetariana ou como foi o processo. Geralmente a pergunta vem acompanhada de um “Eu sempre quis, mas não consigo…”. Minha resposta é: “Mas você já tentou?”. Assim como eu já fiz, muita gente admira a ideia de não comer carne, mas por vários motivos continua consumindo. Pode ser porque o coração de frango parece irresistível, ou porque é difícil recusar aquela carne de panela que a tia faz com tanto carinho. Ou simplesmente porque é mais fácil pegar uma coxinha na esquina do que procurar uma opção vegetariana no meio da correria do dia a dia.

Eu não sei ao certo quando comecei a flertar com o vegetarianismo, mas desde criança essa ideia já passava pela minha cabeça. Eu detestava passar perto do açougue e ver aqueles pedaços de animais expostos. Preferia pensar que a carne que eu comia era só um pedaço avermelhado e suculento, que já vinha pronto do mercado.

Em casa, minha mãe sempre preparava receitas com frango ou peixe, nunca boi ou porco. Era na casa de amigos ou churrascarias que eu experimentava outros tipos de carne. E foi num desses dias que comi a carne mais gostosa da minha vida — um pedaço de “vitela”. Logo após a primeira garfada, perguntei ao meu pai o que era vitela e por que era tão gostosa. Hoje me dá vontade de chorar só de lembrar. Vitela, pra quem não sabe, é a carne de bezerros de 6 a 8 meses, alimentados só com leite e mantidos em espaços minúsculos para que não desenvolvam músculos e a carne fique macia. Eu nunca mais comi.

A carne é fraca

Aos 17 anos, virei motivo de risadas dos meus colegas de colégio quando precisei sair da sala chorando após assistir ao documentário A carne é fraca. O filme abriu ainda mais minha mente, abordando a saúde animal, o meio ambiente e o impacto gerado na produção e consumo. O choque é grande para quem tem sensibilidade, mas vale a pena assistir. Está disponível no YouTube. Apesar do impacto inicial, não foi suficiente para uma mudança definitiva. Por um tempo, reduzi o consumo de carne. As imagens do documentário voltavam à minha mente, e eu me sentia culpada ao comer carne. Mas, com o passar do tempo, voltei a enxergar apenas os produtos embalados no mercado, e o coração de galinha reconquistou seu espaço no meu prato em todos os churrascos.

A carne de boi e porco já não eram minhas preferidas. Quando comecei a participar dos churrascos da faculdade, levava linguiça de frango, porque além de tudo, eu me achava saudável por comer “carne magra”. Nessa época, sem muito critério, eu comia o que o restaurante universitário oferecia. Em uma viagem com minha mãe e irmã, fomos almoçar numa churrascaria rodízio, e ao observar os garçons passando com carnes presas em espetos, cortando pedaços que muitas vezes iam parar no lixo, me senti mal. Prefiro não descrever aqui a cena inspirada no Quentin Tarantino que eu imaginei naquela churrascaria, mas me fez chorar.

Decidi parar de comer qualquer tipo de carne. Confesso que errei, aboli o consumo sem me preocupar em me nutrir adequadamente. Na minha cabeça, cogumelos tinham proteína suficiente, e eu achava que salada já era saudável o bastante. Óbvio que meu plano de vegetarianismo não deu certo. Depois de 4 meses, comecei a sonhar com boi malpassado — o que eu nem gostava antes. Sim, é muito estranho chorar numa churrascaria e salivar com isso.

Cedi à pressão social e achei que era muito difícil manter meu plano e agradar meus amigos ao mesmo tempo. Junto com o consumo de carne, parei de praticar atividade física, consumia doce em excesso e desperdiçava meu tempo livre dormindo no sofá. Aos finais de semana, a comida frita era acompanhada por copos de chope, e o resultado? Muito choro em frente ao espelho.

Uma hora a chave muda

Roupas apertadas, 67 kg na balança, um zumbido constante no ouvido que me incomodava demais, enxaquecas semanais e um exame positivo para intolerância a lactose me fizeram repensar meus hábitos. Reduzi o açúcar, parei de consumir lácteos, emagreci um tanto, me animei, e o zumbido sumiu. Passei a consumir muito mais vegetais, reduzi as frituras e as carnes. Quando ia a restaurantes, optava pelas opções vegetarianas e descobri um mundo de possibilidades. Parei de comer porco e reduzi drasticamente o consumo de carne vermelha. Já não queria mais pedaços de carne, só “boi ralado”, como diria meu pai.

Sabe aquela história de “ou casa ou compra uma bicicleta”? Então, eu ganhei uma! Me senti mais leve (em diversos sentidos) e passei a apreciar a alimentação mais natural.

Durante a pandemia, preparando mais comida em casa, me dei conta de que também não fazia sentido comer frango. A última vez que comi peixe, estava comendo uma salada de salmão quando vi um vídeo no Instagram de um chef cortando a cabeça de um polvo vivo, que se debatia enquanto ele manipulava seu corpo como um troféu. Parei ali mesmo. E desde aquele dia, não comi mais nenhum animal.

Hoje sou mais feliz, mais saudável, e tenho certeza que a Debora criança aprovaria.

PS: Se ainda não assistiu, veja Professor Polvo na Netflix. É uma lição sobre relações que podemos desenvolver com os animais e nem é sobre vegetarianismo.

PS2: Se você ainda não pensa no vegetarianismo como estilo de vida, mas aceita experimentar uma opção sem carne, deixo aqui a sugestão desse hambúrguer da Amazonika.

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