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Naked Cake

Uma breve história sobre protagonismo

Vou logo avisando que o texto é grande, mas fica, vai ter bolo… 

Resolvi dar um tempo no blog que acabou de surgir pra voltar um pouquinho no tempo e contar a história de como tudo começou. Parece não fazer sentido, mas essa aventura tem muitas peças que vão se encaixar. No caminho, muitos episódios chegarão ao fim e tudo vai enriquecer essa história que nunca acaba.

Provavelmente escrita em azul num caderno de papel, junto de alguns péssimos desenhos ilustrando uma história mal contada, existe uma frase afirmando que não sei desenhar, mas eu sei escrever e vou contar nossa história, mas quem somos nós? Eu, eu mesma e vários personagens com papéis fundamentais nesse enredo. Com certeza essa não é e nem será a melhor história que vou contar, até porque, é difícil julgar uma algo sem fim. Minha mãe sempre dizia: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”, por isso tenho demorado tanto pra finalizar esse texto.

De qualquer forma, essa história não começa com uma princesa linda de vestido rosa deitada num sofá comendo junk food e assistindo alguma porcaria do tipo vídeo cassetadas na TV. Talvez essa história tenha começado dentro da barriga da minha mãe, aquele lugar na temperatura ideal, flutuantemente confortável, mas que não me lembro de sentir. Hoje me pergunto “quando o sentimento começa a fazer sentido?”.  Apesar de não me lembrar, eu sei que senti.

Em 2021, no PETAR, tive oportunidade de me sentir dentro da natureza e nascer novamente, é bom sair da caverna de vez em quando e sentir que a vida recomeçou. Acho que a essa altura do texto eu deveria estar desenhando pra tentar me fazer entender, mas seria muito pior, prefiro acreditar no DOM da escrita e do storytelling (aprendi esse termo há pouco tempo, preciso usar). Simplificando, a história começa quando eu nasci, mas só começa a ser contada quando eu soube que apesar de poder renascer sempre, a vida é uma só. Em algum momento a morte vai aparecer por aqui, mas enquanto ela não chega, mantenho respeito a uma distância segura, eu sei que ela caminha ao lado. 

Nesse mundo cheio de informações rápidas e muitas vezes sem sentido, me deparei com uma frase que me marcou “we have two lives, and the second begins when we realize we only have one”, escrevi com giz branco num pequeno quadro que ficava na porta principal do apartamento de 70m² que eu vivia em 2018. Todos os dias eu lia a frase, todos os dias eram únicos e parecia que eu deixava o tempo escapar e a frase ecoava. Um dia, depois do silêncio tomar conta de tanto barulho, mesmo sem perceber, tomei as rédeas e assumi a direção da minha vida. 

Um bom tempo depois percebi que as rédeas sempre estiveram nas minhas mãos mas, como nunca gostei de fazer muito esforço, eu as deixava soltas, apenas via a vida acontecer, gostava de reclamar e colocar a responsabilidade de tudo que acontecia em um ser superior, era praticamente uma coadjuvante da minha própria história. Acho que dá pra chamar isso de piloto automático, zona de conforto, e vários outros termos que talvez a psicologia explique, e por mais que todo mundo já tenha ouvido uma história parecida, é difícil agir quando estamos nessa condição. 

Naquela época eu nem sabia qual era meu propósito. Na verdade, eu nem sabia o que era ter propósito. Devo dizer que demorei uns bons 5 anos para perceber qual  é o meu (se é que eu tenho certeza disso). Por muito tempo atribuí propósito à vida profissional, sempre ouvi que ter um diploma significa ser alguém na vida e isso foi verdade por muito tempo, mas o diploma nunca fez de mim a profissional que eu gostaria de ser. Sempre atuei com carinho, amor e compaixão, e sei da responsabilidade que tenho como fisioterapeuta. Adoro fazer jus ao significado do meu nome “Trabalhadora como a abelha” e, apesar do meu propósito também fazer parte do meu trabalho, eu nunca o enxerguei dentro da fisioterapia. Sempre confiei nas palavras de um dos primeiros pacientes que tive: “Desejo que suas mãos sejam sempre saudáveis para que ajude muitas pessoas”. Sim, carrego amor e o entrego através das mãos. 

Recentemente, em um podcast, ouvi um bate-papo com uma nutricionista comportamental que me fez refletir sobre a minha relação com a alimentação, tive um DR interna. Usei o poder da memória para me encontrar com a Dedé, uma criancinha que não comia quase nada, mas que amava um pratão de arroz, feijão, purê de batatas e frango de casquinha (milanesa); conversei com a Debora pirralha de uns 9 anos que tinha vergonha do corpo, mas comia de tudo, menos porco; bati um papo com a Dé adolescente que tinha as pernas muito finas e adorava um rodízio de pizza; Falei com a Debrão, uma jovem adulta que tentou ser vegetariana, que começou a comer porco e tinha o corpo mais estranho da faculdade; E, encarando a Debora de 5 segundos atrás, eu constatei que ter uma relação saudável comigo mesma foi a melhor coisa que eu já fiz nessa vida. Hoje eu sei apreciar minha fisionomia feliz, eu sei o que me faz mal e sei a medida da bronca quando como algo que me causa dor. Hoje minhas pernas fininhas me levam a lugares que nunca imaginei chegar e principalmente, eu busco o que me faz bem pois, se as rédeas estão nas minhas mãos, cabe a mim promover o meu bem-estar. E foi nessa busca por uma vida mais saudável que eu passei a me exercitar mais, a me conectar com a natureza, a fortalecer boas amizades, cultivar bons pensamentos e me nutrir com consciência. Busquei referências e agradeço muito essas pessoas incríveis que compartilham conhecimento.

A cozinheira lá de casa era minha mãe, vivia suando (literalmente) pra entregar amor dentro das panelas. Ela sabia exatamente o que e quanto cada um comia, calculava friamente a hora de servir o almoço e sempre tinha um feijão congelado pra facilitar a vida. Ela costuma dizer que cozinhar é um ato de amor, hoje agradeço por tanto que recebi em forma de energia pro meu corpo. Mas eu só percebi isso cozinhando pra mim, transformando alimentos e me nutrindo de amor próprio. A pandemia somada ao vegetarianismo (que foi convencionado em abril de 2021) me levaram a cozinhar mais, ao preparar diversas receitas sem a superestimada proteína animal, fui forçada a explorar a criatividade. Foi aí que a cozinha ficou mais colorida, passei a controlar mais de 2 panelas ao mesmo tempo e meu celular se encheu de fotos de bowls elaborados e sobremesas estranhas. Descobri uma forma de me expressar e nutrir com amor. 

Depois de um tempo me tornei o tipo de pessoa que eu adorava julgar:  Primeiro a foto da comida, depois a primeira garfada. Nenhuma foto é perfeita, pouquíssimas são compartilhadas, mas cada uma delas me conta uma história e é isso que eu quero fazer hoje, contar uma parte da minha história e como minhas escolhas me fizeram ser mais grata por tudo. 

Decidi fazer isso hoje, porque há um mês atrás, me disseram que eu estava prestes a começar algo transformador, mas não imaginei o quanto. Talvez alguém dentro de mim disse: “Conversa de vendedor”. 

Há um mês eu entrava pela primeira vez na escola Natural Chef em Florianópolis, que lugar agradável! Junto de meus ainda desconhecidos colegas, desfrutei de um café da manhã bem do Jeito Natural Chef de ser. Ganhei uma dolmã com meu nome,  que sujei logo no primeiro dia. Cozinhei em uma cozinha maravilhosa, dessas que a gente via na TV e hoje salva numa pasta do Pinterest “Quando eu tiver uma casa” ou algo do tipo. Divididos em grupos, cozinhamos em bancadas super equipadas, com muitos utensílios disponíveis, quem assiste programas de culinária pode imaginar o que estou falando. 

Durante a primeira semana de novembro tive aulas com chefs que ensinam com o coração e servem amor muito bem empratados. Conheci uma parte da história e da personalidade de cada um e me inspirei com elas. Passei bastante tempo observando a agilidade e delicadeza das mãos da Yurika e da Lari e recebi ajuda da Fran sempre que precisei. É incrível saber que o mundo tem pessoas maravilhosas trabalhando (muito) no caminho do bem. Parafraseando meu namorado/esposo: “Gente do bem, ensinando a fazer o bem”. 

Foram seis dias intensos, das 9:30 às 18:00 falando em comida, em nutrientes, técnicas de cocção, cortes, utensílios, cores, aromas, texturas e sabores, foram muitos sentimentos de uma só vez. E foi ótimo aguçar meus sentidos ao lado de pessoas brilhantes. Talvez o sentido de sentir seja simplesmente estar vivo. 

Devo dizer que a turma 15 foi a mais especial que já passou pela Natural Chef. Não só porque tínhamos 4 meninos na turma, mas porque somamos várias pessoas com o mesmo propósito, cheios de idéias diferentes que fizeram minha cabeça (e de mais alguns) explodir. Foi muito bom saber um pouco da história de meus colegas, só reforça o fato de que cada ser é único e que juntos podemos fazer a diferença. Em uma semana criamos laços, nos divertimos, dividimos temores, anseios e planejamos banquetes futuros. Consigo visualizar nossos encontros em terras gaúchas, catarinenses, paranaenses e paulistas. 

Eu aprendi e vivi muita coisa legal e queria contar para as pessoas que gosto. Eu, que sempre achei que o instagram era uma vitrine de vidas perfeitamente inalcançáveis, hoje vejo como um meio de me aproximar e contar essa história para pessoas queridas. Parece besteira, mas publicar esse texto junto do vídeo acseguir me fez transpor a barreira da exposição. Eu não sou expert em vídeos, nem bolos, mas eu precisava marcar um momento tão especial na minha vida, e por que não com um naked cake (quase) perfeito?

Tem muita coisa para aprender e muito trabalho pela frente. Hoje tenho a mesma sensação de subir uma montanha pela primeira vez, é a certeza de que o caminho é esse sem saber exatamente onde estou. Espero que a jornada seja longa, com belas paisagens do agora, dessas que dão forças pra seguir até o cume. 

Agora que me conhece um pouco mais e sabe que o blog está começando, fique à vontade para acompanhar.

De vez em quando uma história vou contar. Aqui, estudos e curiosidades vou compartilhar, Mas nem sempre vou rimar. 

Se você leu até aqui, agradeço de coração (mesmo que talvez eu tenha te obrigado).

Se você mora por perto e quiser provar alguma coisa que eu vier a cozinhar, me avisa, a gente dá um jeito. 

Se 1% do que eu expor fizer diferença na vida de alguém, serei muito feliz. 

Um beijos e até mais.

2 comentários em “Naked Cake”

  1. Quantas palavras que aquecem o coração ❤️❤️
    Como é bom te ver bem, vivenciando momentos legais e aprendendo a fazer coisas diferentes. e eu to amando essa tua nova fase confeiteira sim!!! saiba que coloquei tua frase na porta da minha geladeira e to usando ela pra tentar ser um pouco melhor comigo mesma e me fortalecer. bjao Dé, obrigada por existir!

    1. Obrigada pelas palavras Aline.
      Que a frase te faça bem, que a gente continue sendo melhor todos os dias.

      Eee, se você lembrar, uma vez falamos de abrir uma confeitaria… quem sabe né?!

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